A economia moderna não reconhece a importância dos ecossistemas e nem percebe que depende deles sua própria existência. Isso leva, entre outros motivos, a um uso exagerado de recursos naturais e a uma crescente intoxicação do planeta por lixo, poluição e outros subprodutos, indesejáveis, das atividades econômicas.
Na história recente, a consciência de que era preciso tomar atitudes para garantir a sobrevivência do ser humano em nosso planeta teve início nos anos 70, com os trabalhos do Clube de Roma, o Relatório Brundtland e a Conferência das Nações Unidas em Estocolmo. A partir daí, começou um grande esforço, por parte de vários setores da sociedade, como se, finalmente, acordássemos de um sono letárgico, para construir uma mudança no comportamento global, que levasse à conservação dos recursos naturais e ao uso sustentável deles. Outras conferências seguiram-se e novos esquemas criaram-se, como a onda de desenvolvimento sustentável que se propagou após a Conferência do Rio, em 1992.
Entretanto é preciso reconhecer que, apesar do esforço de muitos, não foi possível promover uma mudança substancial nem na manutenção da natureza, nem na redução substancial das forças que levam à destruição de nosso planeta. De fato, a população humana continua a crescer e a consumir cada vez mais: já somos quase 7 bilhões de pessoas. Como fruto de nossas ações sobre o planeta, as florestas nativas vêm desaparecendo, gases do efeito estufa acumulam-se, na atmosfera, em concentrações cada vez mais perigosas, as águas dos rios e dos mares estão poluídas, lixos e resíduos acumulam-se no solo e cada vez mais doenças surgem e ressurgem, pondo nossa existência constantemente em risco.
Essa tendência só se irá reverter, quando houver uma mudança paradigmática no comportamento do ser humano, que reduza nossa pegada ecológica sobre o planeta. Em 2005, a pegada ecológica humana foi estimada em 1.3 planeta Terra. Em outras palavras, isso significa que a humanidade usa os serviços ecológicos 1.3 vez mais rápido do que o planeta é capaz de renová-los. Hoje, se todos os habitantes tivessem o mesmo consumo de um cidadão de classe média dos países desenvolvidos, já seriam necessários quatro planetas como a Terra.
Ainda em 2005, foi publicado o relatório da força-tarefa em sustentabilidade ambiental, do Projeto do Milênio das Nações Unidas. Ele contém dez recomendações preciosas para a garantia de nosso futuro, mas, para efeito desta publicação, destacam-se, três: (1) mitigar os efeitos prévios da mudança climática global; (2) corrigir falhas e distorções de mercado e (3) introduzir a sustentabilidade ambiental em todas as propostas de desenvolvimento.
O mundo está clamando por uma mudança que coloque a sustentabilidade no centro das atenções de todos. Se legislação e regulação não têm dado resultado, quem sabe criar incentivos, que remunerem aqueles que se dedicam a práticas sustentáveis em suas atividades, seja mais eficaz nessa tarefa.
Incentivo econômico, como mecanismo para promover mudanças de comportamentos, é quase uma unanimidade. A natureza tem-nos fornecido benefícios gratuitamente e, talvez por isso, a humanidade não tenha despertado para o valor do ar puro, da água limpa, do solo fértil e de outras qualidades sem as quais não vivemos dignamente. Retirar esses serviços ambientais das externalidades econômicas e colocá-los no centro da economia constituirão, certamente, um grande passo para solucionar desafios, como a manutenção dos serviços ecossistêmicos e suas consequências sobre a qualidade e a quantidade da biodiversidade e da disponibilidade de elementos, como a água, o ar, o solo e um clima ameno e favorável à vida.
Alem disso, ao olharmos esses mecanismos por uma ótica brasileira, podemos ver uma grande oportunidade de negócio. O Brasil, com sua megadiversidade, com sua riqueza de fontes de água e com a grandeza de suas florestas tropicais, estará em posição privilegiada no século XXI, quando esses fatores estiverem no centro das atividades econômicas.
É preciso, contudo, que façamos nosso dever-de-casa: preparar e abrir espaços para que governo, a iniciativa privada e a sociedade civil possam atuar e ser apropriadamente recompensados, possibilitando que o Brasil lidere esse novo mercado, que desponta como um dos mais promissores deste século.
Fonte: Guia Imaflora
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